segunda-feira, 30 de março de 2015

ÁREAS DE CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO CURRICULAR



 Na história da educação, quando se buscam melhorias dos processos de ensino e aprendizagem tendo em vista uma melhor compreensão da realidade e dos conteúdos culturais, a questão da integração curricular tem se colocado como uma possibilidade pensada a partir de diferentes pressupostos educativos e pedagógicos

  
A charge abaixo traz em questão a diferença entre os conhecimentos sistematizados da ciência e das letras, mais a experiência de vida do aprendiz. Assim, é bastante comum entre nós professores indagarmos: seriam as estruturas lógicas das disciplinas a melhor forma de promover uma formação que leve ao desenvolvimento humano integral dos nossos estudantes?


            


É comum encontramos críticas dirigidas à escola a responsabilidade pelo despreparo dos alunos para atuarem no mundo real. Possivelmente, alguns de vocês conheçam o livro Na Vida Dez, Na Escola Zero, que já na década de 1980 alertava para essa questão apontando que a matemática que crianças e adultos trabalhadores aprendem na escola não é suficiente para resolver os problemas da vida diária. E, no entanto, muitos trabalhadores, no seu dia a dia, usam muito mais matemática do que aprenderam na escola. 



Nesta crítica, dois aspectos são apontados como a causa da descontextualização cultural e social dos conhecimentos escolares e, consequentemente, do insucesso e fracasso da aprendizagem: a seleção e a forma de organização dos conteúdos por áreas de conhecimentos e por disciplinas e os processos de avaliação no ensino.


O currículo integrado no ensino médio, em suas diferentes modalidades e enquanto formação humana integral,é um direito de todo brasileiro, uma conquista histórica e uma construção tardia na qual não devemos aceitar retrocessos.



Vamos discutir


1- O que são as áreas de conhecimento e qual sua relação com o currículo?


Diante do que foi discutido , vimos que aqueles campos científicos, ao mesmo tempo em que são específicos, podem ser reagrupados em torno de uma unidade. Aí se pode ter, então, o que chamamos de áreas científicas — um recorte da realidade ainda específico, porém maior do que as disciplinas, posto que esta expressa um objeto de conhecimento ainda não cindido naquelas especificidades.
No caso da área das Ciências da Natureza, vemos a natureza como objeto de estudo, mas ao ser cindida para ser estudada na especificidade da vida orgânica tem-se um campo disciplinar, a biologia; o estudo da natureza em termos da constituição e da transformação da matéria funda a química, e assim por diante. Esta mesma análise pode ser transportada para as demais áreas.
Por exemplo, as Ciências Humanas tratam da vida social e psíquica do ser humano, em termos de acontecimentos, problemas, desafios, hábitos, normas, etc. enfrentados e construídos pela humanidade ao longo do tempo e em dados espaços. Mas essa unidade que caracteriza a área pode se desdobrar em recortes e abordagens mais específicos, dos quais identificamos, por exemplo, a história, a geografia, a sociologia, a psicologia, a filosofia, dentre outros possíveis.
Nós, professores das diversas áreas do ensino médio,por sermos formados sob a hegemonia do positivismo e do mecanicismo das ciências, que fragmentam as ciências nos seus respectivos campos, tendemos a mantê-las não só como fragmentos isolados no currículo, mas, também, a hierarquizá-las.
Não é por acaso, então, que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) orientam a organização do currículo em Áreas de Conhecimento, correspondentes aos propósitos do Ensino Médio: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas.




Trata-se de um tipo de organização que tem a  INTERDISCIPLINARIDADE como princípio. Esta, por sua vez, não é um processo interno somente às respectivas áreas, mas também entre os componentes curriculares de outras áreas. Para isto, é o princípio da historicidade do conhecimento que pode contribuir, pois o trabalho pedagógico fecundo ocupa-se em evidenciar, junto aos conceitos, as razões, os problemas, as necessidades e as dúvidas que constituem o contexto de produção de um conhecimento. 



Sendo assim, a INTERDISCIPLINARIDADE torna-se mais do que um método, e sim uma necessidade.



As possibilidades de interação não apenas entre os componentes curriculares nucleados em uma área, como também entre as próprias áreas, têm a contextualização como um recurso, posto que elas evocam âmbitos e dimensões presentes na vida pessoal e social, da produção material e cultural da vida.


Assim, contextualizar o conhecimento não é exemplificar em que ele se aplica ou que situações ele explica, mas sim mostrar que qualquer conhecimento existe como resposta a necessidades sociais. Estas, por sua vez, são históricas e também produto de disputas econômicas, sociais e culturais.




A corrente elétrica, por exemplo, para um físico, corresponde a um conceito do seu campo científico, mas, no nosso cotidiano, sua concretude está na luz elétrica que ilumina uma sala, num dispositivo eletrônico que transmite imagens, num microfone que possibilita a ampliação de vozes; isto é, está no potencial que tem de proporcionar soluções para as necessidades sociais.


A organização do currículo em áreas de conhecimento não deve substituir a especificidade de cada componente curricular. Em outras palavras, a compreensão do objeto mais geral da área não prescinde o estudo das particularidades desse objeto, e a relação entre elas deve ser construída como um “todo orgânico”, síntese das diversas dimensões que o compõem.



Entenda melhor assistindo ao filme : Ponto de Mutação

“ Lançado em 1992, o filme conta a história de três pessoas de camadas diferentes da sociedade, que apresentam diferentes modos de enxergar a vida. Essas pessoas acabam entrando em uma discussão sobre suas perspectivas do mundo, a partir do modo de funcionamento de um relógio muito antigo e em cima disso se desenrola toda a trama do filme.
O ensino integrado: trabalho, ciência, tecnologia e cultura
As novas DCNEM nos dão pistas nesse sentido, ao apontarem as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas, contextualizando- os em sua dimensão histórica e em relação ao contexto social contemporâneo.
O filme se passa em uma ilha na França, em uma espécie de castelo antigo, onde toda a história acontece. Lá, dois amigos, um senador americano e ex-candidato à presidência dos EUA e um poeta americano que não suportou a vida em uma grande capital e se mudou para a pequena ilha, se encontram com uma ex-cientista, que se mostrou decepcionada com o rumo que o mundo científico tomou ao longo dos tempos.
(Texto extraído de: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Resenha-Cr%C3%ADtica-Ponto-De-Muta%C3%A7%C3%A3o/109243.html)
A vida humana é um processo constante de interferência no mundo que se dá por intermédio de uma ação a qual, diferentemente daquela realizada pelos demais animais, altera de forma consciente o mundo — uma ação, portanto, transformadora consciente. Diferenciamo-nos dos outros animais pela nossa capacidade de agir, não apenas instintivamente ou por reflexo, mas intencionalmente, em busca de uma mudança no ambiente que nos favoreça. (Cortella ,2011, p. 37)
Essa ação transformadora consciente é exclusiva do ser humano e a chamamos de TRABALHO ou PRÁXIS, é conseqüência de um agir intencional que tem por finalidade a alteração da realidade de modo a moldá-la às nossas carências e inventar o ambiente humano.



Um bom exercício para se constatar que o trabalho é propriamente a atividade vital dos
seres humanos singulares e da própria sociedade, além do ato social de produzir conhecimento e cultura, é pensarmos nos fenômenos elétricos. Estes como fenômenos naturais, já existiam mesmo antes de serem apropriados pelo homem como força produtiva capaz de iluminar ambientes, colocar máquinas em funcionamento etc. 




Ou seja, tratavam de fenômenos naturais, mas não eram nem objeto da ciência nem um valor de uso para as pessoas; apesar de existirem, não interferiam na vida social e cultural. Somente quando se tornam produto do trabalho humano é que se constituem também em conhecimento que impulsiona a vida social material e culturalmente.
Os professores poderiam problematizar historicamente as dimensões do modo de produção da existência humana e social hoje – o capitalismo contemporâneo e suas especificidades nacional e regional – ou mesmo processos produtivos e/ou fenômenos que compõem essa dinâmica mais ampla e, a partir de então, cheguem aos conteúdos de ensino e à organização dos componentes curriculares.
A organização formal do currículo exigirá a organização destes conhecimentos, seja em forma de componente disciplinar, projetos etc. Importa, entretanto, que não se percam os referenciais das áreas de conhecimento, de modo que os conceitos possam ser relacionados não só INTERDISCIPLINARMENTE, mas também no interior de cada disciplina.




O estudo das Ciências Humanas e Sociais em articulação com as Ciências da Natureza, das Linguagens, mais a Matemática, , pode contribuir para a compreensão do processo histórico-social da produção de conhecimento, mediante o questionamento dos fenômenos naturais e sociais na sua “obviedade” aparente.



Reflexão e ação


Organizem-se em grupos multidisciplinares, definam um processo produtivo ou um fato, ou um fenômeno e sigam as sugestões apresentadas no quadro como exercício de elaboração de uma proposta curricular. A finalidade deste exercício é que professores cheguem à seleção de conteúdos de ensino e à organização em componentes curriculares,orientada pelo princípio da relação entre ensino e produção.



“Somos todos parte de uma tela insepáravel.”


Professora Orientadora
Professores Bolsistas
Bibliografia
Pacto Ensino Médio – Etapa I - Caderno 4
Áreas De Conhecimento E Integração Curricular Setor de Educação da UFPR - 2013
Música: Arrival of the Birds & Transformation -The Cinematic Orchestra


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