Para iniciarmos
a abordagem da temática avaliação educacional no contexto do presente
curso de formação para professores do Ensino Médio, é preciso destacar que ela
deve estar integrada ao projeto político-pedagógico da escola, tanto na
concepção como na implementação, considerando estudantes e professores como sujeitos
históricos e de direitos, participantes ativos e protagonistas na sua
diversidade e singularidade.
A temática deve, também, estar articulada com
a proposta de ensino médio integral, de qualidade social, e em consonância com
as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), que
reforçam o compromisso da “avaliação da aprendizagem, com diagnóstico preliminar,
e entendida como processo de caráter formativo, permanente e cumulativo”
(BRASIL, 2012).
Há vários
tipos de avaliação: avaliação da aprendizagem, avaliações externas e avaliação institucional
— que têm perpassado com variação de intensidade a prática de professores, especialmente
no ensino médio.
Avaliação
Educacional: uma introdução
Em articulação
com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB), as
DCNEM (BRASIL, 2012) indicam três dimensões básicas de avaliação: avaliação da aprendizagem,
avaliação institucional e avaliação externa, esta, também, apresentada algumas
vezes como avaliação de redes de escolas ou avaliação em larga escala.
A avaliação da
aprendizagem, conforme a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB),
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, pode ser adotada com vistas à
promoção, aceleração de estudos e classificação, e deve ser desenvolvida pela
escola refletindo a proposta expressa em seu projeto político-pedagógico. Importante
observar que a avaliação da aprendizagem deve assumir caráter educativo,
viabilizando especialmente ao estudante a condição de analisar seu percurso e
ao professor e à escola identificar dificuldades e potencialidades individuais e
coletivas.
A avaliação institucional, via de regra interna, é
realizada a partir da proposta pedagógica da escola, assim como dos planos de
trabalho e de ensino, que devem ser avaliados sistematicamente, de maneira que
a instituição possa analisar seus avanços e localizar aspectos que merecem reorientação.
A avaliação externa de escolas e redes de ensino é
responsabilidade do Estado, seja realizada pela União, seja pelos demais entes
federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela está contemplada no Sistema
de Avaliação da Educação Básica (Saeb), com resultados de Língua Portuguesa e
de Matemática, com foco em leitura e resolução de problemas respectivamente, que,
juntamente com as taxas de aprovação, são utilizados no cálculo do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), instituído com o propósito de medir
a qualidade de cada escola, no caso do ensino fundamental público, e de cada
rede, ainda que essa concepção de qualidade, como uma das polêmicas do Ideb,
possa ser considerada limitada.
Tal perspectiva de avaliação contrapõe-se ao senso comum
de conceber a avaliação como sinônimo de medida ,prova, e tendo como função a
classificação e a hierarquização, conseqüência de uma concepção que vê a
formação e a educação como “bem privado” que deve nos conduzir ao sucesso
individual. Seria necessário, portanto, perseguirmos o desafio de tornar senso
comum outra noção de avaliação, ou seja, percebê-la como parte integrante dos
processos de ensino e aprendizagem, com funções diagnóstica,
formativa e somativa.
A qualidade da educação é “um fenômeno complexo que possui
determinações intraescolares — currículo, formação docente, gestão escolar, avaliação
da aprendizagem, condições de trabalho, infraestrutura das escolas etc. — e
extraescolares— condições de vida da população, capital econômico, cultural e
social das famílias dos alunos, entorno social da escola, distribuição de
renda, violência, entre outros”
Numa sociedade como a brasileira, permeada por valores privados,
de sucesso individual, de mercado, de lucro e de competitividade, os instrumentos
de medição de aprendizagem reforçam uma cultura de avaliação que visa a mais “premiar
e punir”, intensificar processos de individualização e competição, favorecendo
a lógica da meritocracia e responsabilização individual, tanto da “competência”
quanto da “empregabilidade”, dificultando a organização dos agentes escolares a
partir de princípios democráticos e
coletivos (CARTA DE CAMPINAS, 2011, p. 1).
Em termos educacionais, a avaliação é uma prática social
carregada de valores, extremamente complexa, tanto epistemológica, técnica, ética
bem como politicamente. É condição que seja integrada à proposta
político-pedagógica do nível/modalidade que se aplica, no caso, o ensino médio,
e coerente com a concepção de formação que propomos aos nossos jovens na etapa
da educação em discussão, alinhada com os objetivos de uma formação integral.
No âmbito da literatura da área, a avaliação educacional é
definida, majoritariamente, como um julgamento de algo, mais precisamente de um
objeto de avaliação, baseado em alguns critérios, com determinadas implicações
para o processo pedagógico, mas sem estabelecer identidade com este.
Como face mais conhecida, encontramos, tanto nas práticas
escolares quanto na literatura, o que se denominou de avaliação da aprendizagem,
sendo esta, usualmente, relacionada ao processo que resulta na produção de uma
síntese avaliativa para cada aluno, seja por meio de notas, expressas em
números, seja por meio de conceitos, expressos em letras ou expressões, ou,
ainda, de descrições sobre a situação de aprendizagem de cada aluno. Essa síntese, normalmente, é produzida por
disciplina curricular,mesmo em contextos nos quais se menciona a necessidade de
uma avaliação que leve em conta o conjunto dessas disciplinas ou das áreas, como
é o caso do ensino médio integrado.
A necessidade de encarar a avaliação vinculando-a ao
desafio da aprendizagem deriva do esforço de desvinculá-la dos mecanismos de aprovação
ou reprovação e, mais importante, destaca outra finalidade da avaliação
educacional, em que se concentra sua verdadeira dimensão política; pois, numa
escola que se pretenda democrática e inclusiva, as práticas avaliativas deveriam
se pautar por garantir que, no limite, todos aprendam tudo, ainda mais quando
nos reportamos ao ensino fundamental e ao ensino médio, etapas obrigatórias por
força da lei ou por pressões sociais.
Essa obrigatoriedade é assim fixada, entre várias razões,
para que a ninguém seja dado o direito de se excluir de conhecimentos considerados
indispensáveis para o aproveitamento de outros direitos, e como
condição para uma vida mais autônoma.
Destacamos que a avaliação também é um processo caracterizado
pelo julgamento de alguns aspectos considerados relevantes com vistas às
finalidades curriculares. Para tanto, deve delimitar esses aspectos para,
posteriormente, reunir informações sobre eles mediante técnicas, instrumentos,
procedimentos adequados e, sobretudo, definir os critérios para os julgamentos.
É bom realçar que
práticas avaliativas condizentes com uma perspectiva de inclusão são tarefas a
serem pensadas, debatidas e implementadas pelo conjunto das equipes escolares em
constante interação com dirigentes de redes de ensino, pois se existem momentos
nos quais um professor pode isoladamente intervir, suas potencialidades somente
podem se realizar como fruto do trabalho coletivo.
No desenvolvimento de uma proposta curricular, podemos
identificar pelo menos três tipos de avaliação educacional que, apesar de suas
diferenças, precisam estar articuladas. A primeira delas, mais conhecida dos
professores, diz respeito à avaliação da aprendizagem, ou seja, a
avaliação que os professores desenvolvem no dia a dia das salas de aula, tendo
como foco o que seus alunos já aprenderam em relação
às várias disciplinas e aos valores trabalhados na escola.
Há um segundo tipo, a avaliação institucional que toma a escola
como objeto de avaliação, especialmente como se vislumbra em seu projeto político-pedagógico.
Essa avaliação, ao incorporar resultados da avaliação da aprendizagem, volta-se,
entre outras possibilidades, para a própria proposta curricular – e das
atividades didáticas e pedagógicas daídecorrentes – organizadas para contribuir
com o aprendizado de seus alunos. Por isso, deve serdesenvolvida com a
participação de alunos, professores e equipes de gestão. A
terceira é a avaliação externa, da qual são exemplos o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) e o Saeb. Nesses casos, temos uma avaliação sobre
resultados provenientes de provas padronizadas , em que são apresentadas tarefas
(itens) baseadas em matrizes de avaliação construídas em torno de habilidades e
competênciasque os alunos deveriam desenvolver em determinados momentos do
processo de escolarização. As avaliações externas permitem que as equipes
escolares possam efetuar dois movimentos: um, de comparação consigo mesma, por
conta das séries históricas, e outro em relação a outras escolas do Estado, da
região ou do Brasil, conforme os dados aos quais tenha acesso.
Com a ressalva de que essas avaliações não têm como objeto
toda a riqueza curricular das escolas em função dos instrumentos utilizados, como
é o exemplo das provas padronizadas sobre leitura; elas concentram-se em
objetos que as provas padronizadas podem abarcar o que não lhes tira a importância,
mas não lhes confere o poder que querem imputar em alguns casos. Eis porque,
mesmo que bem elaboradas, suas matrizes de avaliação, ou matrizes de
referência, como também são denominadas, nãopodem ser tomadas como proposta
curricular, porém apenas como um referencial. Evidentemente, os resultados
das avaliações externas podem e devem ser utilizados como parte do processo de
avaliação do projeto educacional de cada escola e, por isso, vêm a alimentar sua
avaliação institucional.
Reflexão e ação
A partir de sua formação — inicial e continuada — e de sua
experiência docente, discuta e reflita com colegas de outra área distinta asquestões
abaixo (sugerimos pequenos grupos de 3 professores de áreas bastante distintas,
por exemplo, Educação Física, Matemática e Sociologia): – quais têm sido os
maiores desafios no campo da avaliação educacional? – qual sua concepção de
avaliação e como ela se constituiu na sua trajetória docente?
Avaliação
da aprendizagem: algumas questões
A avaliação
da aprendizagem, que, por conta das avaliações externas, passa a ser denominada
também de avaliação interna, engloba três momentos extremamente relevantes para
o desenvolvimento curricular, como salientado em Perrenoud (1999).
a) Inicial: quando é conduzida,
preferencialmente, antes do início do ano letivo ou de um novo tópico de
ensino. Configura a avaliação com função diagnóstica, que permite aos professores,
em decorrência dos resultados, refletirem sobre a programação das atividades — e
correspondentes materiais de apoio — a
serem desenvolvidas com seus
alunos, inclusive para trabalharem com as possíveis diferenças entre os alunos,
em cada turma e na escola como um todo.
b) Intermediário: quando é
desencadeada durante o desenvolvimento do programa curricular. Configura a
avaliação com função formativa, que deve, entre outros aspectos, favorecer a
revisão das estratégias de ensino e eventuais ajustes nas atividades
planejadas, servindo, igualmente, para que os alunos tom em consciência de seus
progressos e dificuldades, contribuindo para que se tornem sujeitos plenos de
suas aprendizagens.
Essa
avaliação pode ser tomada como uma avaliação para a aprendizagem, pois
se organiza com vistas às iniciativas que os professores devem desencadear para
que as aprendizagens ocorram enquanto a proposta curricular ainda está em desenvolvimento
no período letivo, por isso é que se trata de uma avaliação que ocorre durante
a ação docente.
a) Final:
quando é desencadeada ao final do ano letivo ou de um tópico de ensino. Configura
a avaliação com função somativa, que se reveste de grande utilidade, pois seus
resultados permitem julgar o aprendizado, isto é, o ganho de cada aluno, turma
e escola, supondo se que tenham sido
estabelecidos os patamares no início do processo. Essa função avaliativa alimenta,
também, a avaliação de currículos e programas, fornecendo indicações de
atividades a serem (re)pensadas pela equipe escolar no prosseguimento do
processo de aprendizagem, quer para ações suplementares – quando é o caso de tópicos
dentro de um ano letivo –, quer para o próximo ano, ganhando ares de avaliação
diagnóstica.A concepção de avaliação da aprendizagem aqui apresentada se
caracteriza por ser integrada ao conjunto das atividades curriculares, ainda
que não deva ser confundida com o currículo. Demarcamos a integração para
salientar que seu processo deve ser, por um lado,determinado e estimulado pelos
objetivos mais gerais do desenvolvimento curricular, especialmente para que se
possa, continuamente, julgar os patamares de resultados, quer de um grupo de
alunos, quer de cada aluno e, por outro lado, para que desses julgamentos
surjam possíveis tomadas de decisões, delineamentos de novas atividades ou ajustes
nas atividades em curso. Nesse sentido, ganha proeminência a função formativa
da avaliação, ou seja, a avaliação desenvolvida durante o período letivo, de
modo que o professor possa agir para conseguir os objetivos propostos.
b)
O mais saliente, no entanto, é a
demarcação da necessidade de consolidar uma nova cultura de avaliação,
associada ao sucesso de todos os alunos, vinculada ao trabalho coletivo e
ancorada em técnicas, instrumentos e procedimentos pelos quais cada aluno seja
avaliado em relação a si mesmo e, simultaneamente, em relação aos colegas,
fixados os critérios de um resultado satisfatório para todos.
O conceito
de avaliação de segundo Lukas Mujika e
Santiago Etxebarría (2009, p. 91), para os quais avaliação é o processo de
identificação coleta e análise de informações relevantes - que podem ser
quantitativas ou qualitativas — de modo sistemático, rigoroso, planejado, dirigido,
objetivo, fidedigno e válido para emitir juízos de valor com base em critérios
e referências, preestabelecidos para determinar o valor e o mérito do objeto
educacional em questão, a fim de tomar decisões que ajudem a aperfeiçoar o
objeto mencionado.
A emissão de um juízo, aspecto mais relevante do processo
avaliativo, caracteriza-se, entre outras formas, em expressões tais como: atingiu
ou não determinado conhecimento, competência ou habilidade.
Reflexão e Ação
Em consulta ao projeto político-pedagógico e aos planos de
ensino (aos quais você possa ter acesso) de sua escola, procure identificar os seguintes
elementos: – Definição(ões) de avaliação da aprendizagem encontrada(s). – Quais
os instrumentos e procedimentos mais utilizados. – Critérios para atribuição de
notas ou conceitos e de aprovação. – Instâncias e participantes para definição da
situação de cada aluno ao final do ano letivo. – Outras observações que
considere relevantes para a discussão de avaliação da aprendizagem.
Avaliação
e taxas de rendimento: uma relação a ser problematizada
Como destacado em Moraes e Alavarse (2011), a avaliação do
ensino médio não necessariamente deve seguir o modelo que considera apenas o
desempenho de seus alunos em avaliações externas, mas também, procurar por outros
aspectos, entre os quais se encontram as taxas de rendimento, que compreendem as
taxas de aprovação, reprovação e abandono apuradas ao final de cada período letivo.
Ou as taxas de distorção idade-série e as taxas líquidas e brutas de matrícula.
Há vários filmes que podem ser utilizados nas reflexões
entre os professores sobre o tema da avaliação
em, por exemplo, www.eovideolevou.com.
br. Dis ponível em: <http:// www.eovi deolevou.com.br/locacao/filme/assuntos.
asp>.
As taxas de rendimento no ensino fundamental e médio
brasileiros indicam uma realidade preocupante, pois exemplificariam que o
direito à educação penosamente conquistado estaria sendo negado na prática, com
várias consequências negativas, mais ainda para alunos com nível socioeconômico
mais baixo.
Ao analisarmos
a adequação idade anos de escolarização nos quadros seguintes, divulgados pelo Inep
no início de 2013 a partir do Censo Escolar de 2011, os dados demonstram sucesso
na entrada dos alunos na escola, porém, à medida que os anos passam, há uma estagnação
preocupante, especialmente na retenção
dos
estudantes nas séries finais do ensino fundamental, na inadequação idade-série
do ensino médio e nas baixas taxas de sucesso no ensino médio.
Reflexão e Ação
Após ter visto alguns dados nacionais sobre as taxas de
rendimento, procure levantar os dados de sua escola e, sobre eles, observe os
seguintes questionamentos: – Quais são os dados e taxas de rendimento de sua
escola? – O que esses dados lhes revelam? – Como esses dados são discutidos
entre os professores?
–
Existe, na escola, algum debate sobre eventuais relações entre as taxas de
rendimento e a avaliação da aprendizagem nas disciplinas ou em algumas das
disciplinas?
Avaliações
externas: novos desafios e tensões
Como mencionado, o debate sobre a avaliação educacional
teve um novo ingrediente desde a década de 1990, mesmo sem resolver seus
impasses históricos mais antigos; trata-se das chamadas avaliações externas,
assim denominadas porque são definidas, organizadas e conduzidas por quem não
se encontra no interior das escolas. Diante disso, passou-se a empregar a
expressão avaliação interna para designar a avaliação praticada no interior da
escola, usualmente conduzida pelos professores, entre outras consequências.
As experiências iniciais de avaliações externas, até mesmo
fora do Brasil, foram justificadas como necessárias para monitorar o
funcionamento de redes de ensino, além de fornecer subsídios para seus gestores
na formulação de políticas educacionais com dados melhor definidos em termos
dos resultados que, por sua vez, decorreriam das aprendizagens dos alunos. Não necessariamente
essas avaliações tinham como foco cada escola das redes avaliadas,
especialmente nos casos em que se recorria às avaliações por amostragem.
Deve-se destacar que essas avaliações externas têm como características,
entre outras, a definição de uma matriz de avaliação, na qual são especificados
os objetos de avaliação, e o emprego de provas padronizadas como condição para que
sejam possíveis, quando cabíveis, comparações baseadas em resultados mais
objetivos.
Reflexão
e Ação
Na avaliação institucional de sua escola, como têm sido abordadas
as avaliações externas e como têm sido utilizados seus resultados? – Existe algum
tipo de atividade voltada para essas avaliações? Como, por exemplo, organização
de simulados, laboratórios ou espaços de diálogos? – Os alunos fazem
comentários sobre o Enem? Se afirmativo, em que perspectiva? – A organização
dos planos de ensino, de alguma forma, tem levando em conta as matrizes de
referência do Enem?
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